
Em meio às discussões sobre inovação e mercado no “Dia de Campo do Cacau” em Caroebe, a história de Keully de Sousa Freitas se destaca como um exemplo prático do potencial do setor. Jovem produtora e empreendedora, ela e sua família transformaram a produção de amêndoas em um negócio de valor agregado, com o apoio do Sebrae.
A história da família de Keully na cacauicultura começou em 2019, após o plantio das primeiras mudas em 2018, conduzido por seu pai, Nicanor Saraiva de Freitas. A jornada inicial foi marcada mais pela paixão do que pelo conhecimento formal.
“O produtor principal aqui de casa é meu pai. O cacau chegou para a gente em 2019, depois que fizemos as mudas em 2018 e as levamos para o campo. Começamos a trabalhar o cacau sem conhecimento, bem às cegas. Foi o amor pela cultura e a curiosidade que nos levaram a ter sucesso e a conseguir os resultados que temos hoje. É um trabalho árduo e cansativo, mas é um trabalho familiar. Precisamos do coletivo familiar para conseguir resultados significativos. Hoje, a nossa lavoura tem seis anos, e trabalhamos muito a questão da adubação e dos tratos culturais porque queremos que ela produza no seu potencial máximo. Queremos que o cacau seja o carro-chefe da nossa propriedade.”

Com o crescimento da produção, a dinâmica familiar se expandiu para incluir mão de obra externa, gerando renda para outras famílias e profissionalizando o processo.
“Inicialmente, era somente a nossa família: meu pai, minha mãe, minha irmã e eu. Porém, a mão de obra teve uma expansão, a demanda foi maior e a produção também. Tivemos que começar a contratar pessoas de fora, gerando renda para outras famílias. Já começamos a qualificar um pessoal que hoje tem um trabalho fixo conosco. Nosso plano é ter uma equipe qualificada trabalhando permanentemente com a gente, porque o cacau demanda uma mão de obra especializada. Meu pai centraliza o serviço braçal e comanda a equipe, enquanto eu trabalho com os calendários. Minha irmã me ajuda, e minha mãe trabalha na etapa de corte. Todos trabalham juntos.”

A parceria com o Sebrae, que entrou na história da família por meio do projeto Cacau Amazônia, foi um divisor de águas para a profissionalização do trabalho.
“O Sebrae entrou na nossa história através do projeto Cacau Amazônia e tem sido um parceiro espetacular. Ele conseguiu unir pessoas, unir propósitos e estabelecer metas. Somos um grupo de 25 produtores, e o Sebrae tem sido o parceiro que traz novos parceiros e abre portas. Estamos alcançando metas que antes eram uma realidade bem distante. O Sebrae consegue unificar um processo, ele agrega, traz. Ele torna o trabalho coletivo, pois minha meta e minhas expectativas se tornam as expectativas de outros produtores e de outros órgãos. Aquele coletivo impulsiona, e o Sebrae é exatamente esse centralizador para nós, ele é um divisor de águas.”
O projeto de chocolate artesanal, que hoje é a grande marca da propriedade, nasceu de uma motivação familiar para atender a uma necessidade de seu pai.
Na verdade, a produção de chocolate começou por causa do meu pai. Ele é diabético e tem uma restrição muito grande em relação a doces. Eu adquiri a máquina com o objetivo de produzir chocolate para ele, com adoçante ou com outros insumos que ele pudesse consumir sem fazer mal à saúde.

Dessa necessidade pessoal, nasceu um negócio. Keully viu o potencial de transformar a amêndoa em um produto final com alto valor agregado e decidiu que não queria isso apenas para ela.
“Nós já temos um registro de marca, a Roraimi Chocolate Artesanal, na modalidade ‘Tree to Bar’ (da árvore à barra), porque transformamos nossa produção para entregar o produto final ao consumidor. Mas eu não quero isso só para mim. Quero que as mesmas possibilidades que vejo cheguem para outros produtores. A industrialização da nossa produção agrega valor e dá a eles a capacidade de reinvestimento na sua lavoura e de torná-la altamente produtiva.”
A visão de futuro de Keully vai além do sucesso de sua própria família, focando no crescimento de toda a comunidade de produtores. A meta é criar um modelo de negócio que possa ser replicado para a prosperidade do coletivo.
“O coletivo é muito importante. Temos que nos unir. Queremos trabalhar a agroindústria através do Sebrae e de outras instituições que queiram ser parceiras. Estamos formulando uma associação para buscar recursos, projetos e emendas parlamentares. A gente quer trabalhar o selo artesanal para produzir em escala comercial, e não é só a minha produção. Queremos ter aquele coletivo onde todo mundo ganha, onde todo mundo sai feliz.”
O Dia de Campo do Cacau
O “Dia de Campo do Cacau” é um evento de capacitação e articulação que visa fortalecer a cadeia produtiva do cacau em Roraima. Organizado pelo Sebrae, Embrapa e Prefeitura de Caroebe, o evento reúne especialistas e produtores para apresentar as melhores práticas de cultivo e beneficiamento. Seu objetivo principal é fornecer o conhecimento técnico necessário para que os produtores possam aumentar a qualidade e a produtividade de suas amêndoas, tornando-se mais competitivos e posicionando a região sul de Roraima como um novo polo de excelência em cacau no Brasil.
