O primeiro dia do “Dia de Campo do Cacau”, em Caroebe, demonstrou que o futuro da produção de cacau em Roraima passa, inevitavelmente, pela inovação. As palestras da manhã desta sexta-feira (19), conduzidas por especialistas nacionais, aprofundaram a discussão sobre como a adoção de métodos modernos, desde o campo até a pós-colheita, pode transformar o setor e posicioná-lo no mercado global. O evento, que é uma parceria entre o Sebrae Roraima, Embrapa e a Prefeitura de Caroebe, busca fornecer as ferramentas necessárias para que os produtores locais possam ir além da produção e se tornarem protagonistas de uma cadeia de valor.
A visão de que a inovação é fundamental para o sucesso foi apresentada pelo analista da Unidade de Competitividade Agro Ambiental (Uagro) do Sebrae Roraima, Rodrigo Rosa.
A inovação é importante em qualquer setor da economia e não é diferente na cacauicultura. Inovar os métodos de produção, a forma de manejo, atento ao que o mercado pede e ao que as áreas de pesquisa recomendam, é fundamental para você ter uma produção moderna e voltada para as boas práticas, seja de manejo, de comercialização ou de prevenção de pragas e doenças.Explica.
O cacau da Amazônia como diferencial competitivo
O principal atrativo do cacau cultivado na Amazônia, especialmente em Roraima, é a sua sustentabilidade. Em sua palestra “Do cacau ao mundo: O papel do produtor na nova história do setor”, Allana Rodrigues, da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), ressaltou a importância desse diferencial para o setor nacional.
“Sem dúvida, o cacau da Amazônia é primordial para o Brasil alcançar a relevância nacional e internacional que a gente pretende. É um cacau com diferencial, pois é ambientalmente e socialmente sustentável, atributos que agregam valor”. Allana destacou que o cacau da região será o motor para que o Brasil atinja os próximos patamares de autossuficiência e de excedente para exportação (…) Com certeza, projetos como este são super importantes para alcançarmos sucesso no desenvolvimento do setor”, apontou.
A fala de Allana solidificou a ideia de que o cacau roraimense não deve competir apenas por volume, mas por qualidade e valor. Ao focar em atributos únicos como a sustentabilidade, os produtores locais podem acessar nichos de mercado mais lucrativos, onde a procedência e o impacto socioambiental são tão importantes quanto o sabor do produto final.

A qualidade do cacau não se define apenas no campo, mas principalmente após a colheita. Em sua palestra sobre “Colheita, pós-colheita e armazenamento de amêndoas de cacau”, Alino Zavarise Bis, técnico aposentado da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), explicou que a fermentação é um processo crítico para garantir um produto de alta qualidade e seguro.
“Parabenizo a Embrapa e o Sebrae pela iniciativa deste evento, de uma importância muito grande para a região que está iniciando. No contexto da minha palestra, ela engloba a parte do beneficiamento primário do cacau, que tem várias fases. Com a situação da Monilíase, que já está em algumas regiões do Amazonas e do Acre, a gente tem que prevenir isso. A fermentação é um processo muito importante porque, se a doença chegar aqui, o cacau só vai sair se for tipo 1 ou tipo 2. A fermentação é onde está o principal gargalo para você sair com a produção do estado, pois sem ela não se consegue escoar o produto”, esclareceu.
Alino detalhou que a fermentação, além de desenvolver os precursores do sabor do chocolate, atua como uma barreira sanitária natural.
“Dentro do processo de classificação oficial, ele tem os parâmetros. De acordo com os defeitos que aparecem na prova de corte, você dá a classificação como tipo 1, tipo 2, ou fora de padrão. A importância da fermentação é porque, dentro do processo, a temperatura é alta, e qualquer espécie de fungo que estiver ali é eliminada, principalmente com relação à Monilíase. Quanto melhor o cacau for fermentado no processo de beneficiamento primário, ele também vai dar um excelente chocolate”, concluiu.

Para garantir que a produção de cacau em Roraima seja robusta e rentável, a Embrapa tem investido em pesquisa e validação de materiais genéticos. Edmilson Evangelista, da Embrapa Roraima, apresentou o trabalho de pesquisa de Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em sua palestra.
“Estou trazendo aqui um trabalho experimental que a gente está implantando, que foi financiado pela Sudam. Este trabalho experimental conta com vários objetivos, e dentro dele, a gente quer verificar a adaptabilidade de clones. Estamos testando 15 materiais clonais diferentes, já implantados há quatro meses, para ver a adaptabilidade deles aqui, frente à produtividade, incidência de pragas e doenças, forma de manejo e compará-los com materiais seminais. Também verificamos a questão da irrigação e da presença de plantas companheiras em sistemas agroflorestais, frente a questões como produtividade e manejo fitotécnico”.
Evangelista ressaltou o impacto direto que o estudo terá sobre o pequeno produtor. “O simples teste desses materiais já vai indicar para a gente quais são os materiais mais adaptados. Sendo materiais mais adaptados, isso vai impactar na produtividade da cultura. Se a gente está testando materiais que vão produzir mais, isso vai impactar diretamente a receita do produtor e, consequentemente, a renda dele com o cultivo de cacau”.

A teoria e a pesquisa apresentadas no evento já encontram eco na experiência de produtores como José Filho, do Sítio Serra Bonita, em São Luiz do Anauá. Com a experiência de quem começou em 2023, José Filho vê na capacitação a chave para o sucesso. Ele expressou a satisfação em participar do evento e em ver a cadeia produtiva ganhar força.
“É muito bom quando esse tipo de evento acontece, pois é uma grande oportunidade de aprender. O Sebrae, mais uma vez, está de parabéns pela iniciativa. No início do mês, tive a oportunidade de apresentar o meu cacau no Amazontech e, por conta disso, pessoas de outros estados estão procurando minhas amêndoas. É um sinal de que o nosso trabalho está sendo visto. Está sendo muito bom aprender com os especialistas aqui presentes”, finalizou.

O Dia de Campo do Cacau
O “Dia de Campo do Cacau” é um evento de capacitação e articulação que visa fortalecer a cadeia produtiva do cacau em Roraima. Organizado pelo Sebrae, Embrapa e Prefeitura de Caroebe, o evento reúne especialistas e produtores para apresentar as melhores práticas de cultivo e beneficiamento. Seu objetivo principal é fornecer o conhecimento técnico necessário para que os produtores possam aumentar a qualidade e a produtividade de suas amêndoas, tornando-se mais competitivos e posicionando a região sul de Roraima como um novo polo de excelência em cacau no Brasil.
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