No calor dos sabores amazônicos e da força de uma mulher empreendedora, nasceu a “Da Val Alimentos Amazônicos”. À frente da marca está Val Bezerra, uma empreendedora de Roraima que vem encantando o público do Inova Amazônia Summit com molhos de pimenta autorais, feitos a partir de frutos típicos da Amazônia, e com uma história de superação e fé.
Tudo começou como uma brincadeira, mas com um tempero especial: amor. Val conta que sempre foi apreciadora de molhos de pimenta, inspirada pelo pai, que fazia um molho simples, mas delicioso. “Durante a pandemia, fiz uma viagem ao Amazonas e provei um molho que mudou tudo. Era em Presidente Figueiredo. Perguntei ao garçom do que era feito e ele, com grosseria, disse: ‘Você não tem paladar?’ Aquilo me marcou”.
De volta a Roraima, determinada a recriar aquele sabor, Val teve uma intuição ao ver uma manga verde em um quintal. Pediu permissão à dona do terreno, colheu a fruta e criou o seu primeiro molho original. “Na hora do almoço, todos provaram. Meu marido achou que eu tinha comprado o molho e disse que estava melhor que qualquer um anterior. Era de manga, eu sabia naquele momento que o molho era de manga!”
A brincadeira virou negócio com o segundo sabor: tucumã. “Ele disse: ‘A gente vai vender isso’. E eu: ‘Não vai não, fiz pra você’. Mas ele insistiu. E aí começou a Da Val”, relembra. Desde então, novos sabores foram criados, como pimenta com pupunha e cuxá. A de buriti ainda está em fase de testes, devido à alta fermentação do fruto.
Val se profissionalizou com um curso de manipulação de pimentas, feito online durante a pandemia. Hoje, ela desenvolveu um método de conservação natural que mantém os ingredientes frescos por até um ano, sem congelamento. “Tem um segredo aí”.
Mas sua trajetória não é feita apenas de receitas. É uma história de superação pessoal. Após a perda da mãe e anos difíceis, Val decidiu apostar em si mesma e se inscreveu no programa Inova Amazônia – Tração, promovido pelo Sebrae em 2023. “Eu nem entendia muito bem o meu negócio. Tinha vergonha de aparecer em vídeo. Foram três dias tentando gravar cinco minutos.”
Mesmo enfrentando traumas acadêmicos e bloqueios emocionais, Val persistiu.

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Eu via uma pessoa do meu passado toda vez que alguém me filmava. Não era fácil. Mas eu venci.” E venceu mesmo. Foi selecionada entre mais de 240 candidatas. A partir dali, começou uma transformação. Hoje eu me sinto gigantesca. Aprendi a ter voz, a me posicionar, a decidir por mim
Foi no Sebrae que ela também conheceu o programa Sebrae Delas, voltado ao fortalecimento do empreendedorismo feminino. Lá, encontrou um espaço de acolhimento e empoderamento. “Mesmo que eu fique calada nos eventos, eu me sinto merecedora de tudo que vivo.”
Em 2024, Val se inscreveu no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, movida por uma fé inabalável. “Todos os dias eu dizia: ‘Senhor, eu quero esse prêmio’.” Após enfrentar dificuldades para gravar o vídeo final e contando com a ajuda do marido para editar, ela conseguiu enviar o material.
A confirmação da classificação estadual veio por acaso, num café no Sebrae. A gestora Kamyla Brasil, com brilho nos olhos, revelou: Val era uma das finalistas.
Eu fiquei em choque. Pedi tanto a Deus por isso, e quando recebi a notícia, não acreditei
O grande dia chegou. Val foi chamada ao palco como primeiro lugar estadual. “Fiquei anestesiada. Caminhei em câmera lenta. Só queria abraçar a Kamyla.” Mas as surpresas não pararam. No dia seguinte, veio a revelação: ela era finalista para o prêmio nacional.
Mesmo conquistando o segundo lugar na etapa nacional, seu sentimento é de vitória completa. “Eu pedi o primeiro lugar em Roraima e ganhei. Pedi pra estar entre as melhores e Deus me deu mais. Não sou hipócrita, eu queria o primeiro nacional, sim. Mas entendo que outras histórias também impactam. E eu sou grata. Grata a Deus, ao Sebrae, e a todo mundo que me apoiou.”
Hoje, Val Bezerra vive das pimentas que produz, com sabores únicos e identidade amazônica. Mais do que molhos, ela entrega histórias, raízes, resistência e amor, encantando o público amapaense durante os três dias de Inova Amazônia Summit.
Eu sou da Amazônia. Eu vendo Amazônia. E eu amo o que faço