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De Roraima para a COP30: a força da arte e moda indígena da Minha Aldeia

Marca da artista e empreendedora Edith Vieira leva a identidade e a ancestralidade macuxi à conferência mundial do clima, com apoio do Sebrae Roraima
Por Sebrae/RR
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Edith Vieira, proprietária Minha Alma

A força da Amazônia não está apenas nas florestas e rios, mas também nas mãos que transformam histórias em arte. Essa é a essência da marca Minha Aldeia, criada pela artista e empreendedora Edith Vieira, que representa Roraima na COP30, a 30ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas. Com apoio do Sebrae Roraima, Edith levará suas criações autorais para a loja colaborativa da conferência, que ocorrerá em Belém (PA), em novembro de 2025, um dos palcos mais importantes do mundo para as discussões sobre o futuro do planeta.

A COP30 é o maior evento global dedicado às negociações e ações para combater as mudanças climáticas. Ela reunirá líderes mundiais, cientistas, diplomatas, representantes da sociedade civil e povos originários para debater temas como aquecimento global, energias renováveis, preservação das florestas e sustentabilidade. A conferência terá importância histórica: será a primeira realizada na Amazônia, bioma essencial para o equilíbrio climático da Terra, e ocorrerá dez anos após o Acordo de Paris, marco internacional na luta contra o aquecimento global.

Mais do que um evento político, a COP é um espaço simbólico de representatividade. É ali que histórias locais ganham voz global, como a de Edith, que nasceu em Boa Vista, é da etnia macuxi e cresceu cercada de tradições que hoje se transformam em arte e moda autoral.

Raízes que viram arte

“Eu cresci dentro do centro de artesanato. Minha mãe foi uma das fundadoras e, desde os meus seis anos, eu vivia ali, entre colares, brincos e pulseiras. Eu literalmente aprendi a viver da arte”, conta Edith, com o olhar de quem fala não de um ofício, mas de uma herança. Sua trajetória nasceu das mãos maternas e da convivência com outras artesãs que moldaram seu olhar artístico e cultural.

Com o tempo, a menina que ajudava nas bancas de artesanato começou a desenhar e criar peças próprias, misturando elementos tradicionais indígenas com referências contemporâneas. Assim nasceu a marca Minha Aldeia, que une ancestralidade e identidade feminina em coleções que traduzem o espírito de Roraima.

As bijuterias e biojoias da marca — muitas delas premiadas, como os colares de cobra coral que renderam a Edith o Prêmio Aldir Blanc, de alcance nacional — são produzidas com materiais naturais e sustentáveis. Além das joias, a empreendedora também criou uma linha de vestidos e bolsas autorais, que valorizam símbolos locais como o Monte Roraima, o Tepequém e referências ao modo de vida amazônico.

“Tudo o que eu crio tem um pedacinho da nossa história. São estampas que falam do nosso jeito de viver, do que a gente come, do que a gente sente. Eu gosto de fazer moda com alma, que carrega a força da mulher e da cultura de Roraima”, explica Edith.

A virada empreendedora

Embora o talento e a criatividade estivessem presentes desde cedo, Edith conta que o empreendedorismo foi um aprendizado mais recente. Durante anos, ela trabalhou em parceria com familiares e só mais tarde decidiu seguir carreira solo. Foi nesse momento que o Sebrae Roraima entrou na sua trajetória e se tornou um divisor de águas.

“O Sebrae me abraçou desde o início. Eu comecei praticamente do zero e duvidei se conseguiria sozinha. Mas eles me mostraram o caminho, me capacitaram e me deram oportunidades que mudaram minha vida”, lembra.

A participação em eventos como o Roraimoda 2025 e o Amazontech ampliou sua visibilidade e consolidou sua presença na economia criativa. “Depois dessas experiências, veio a grande notícia: a seleção para representar Roraima na COP30. Foi um sonho. Meus vestidos e joias já foram para Belém e vão estar expostos por 20 dias na loja colaborativa do Sebrae”, celebra.

A loja colaborativa, iniciativa nacional do Sebrae com o apoio do Sebrae Pará, reunirá produtos de todas as regiões do Brasil com foco na bioeconomia e na sustentabilidade. O espaço funcionará em duas áreas principais da conferência e contará com curadoria técnica e vitrine digital em um marketplace integrado ao Mercado Livre.

O papel do Sebrae e o impacto para os pequenos negócios

Para Gabrielle Ribeiro, gestora do projeto de mercado do Sebrae Roraima e responsável pela curadoria local da loja colaborativa, a presença das marcas roraimenses na COP30 é um marco para o empreendedorismo do estado.

“A loja colaborativa surgiu por meio de um convite do Sebrae Nacional e do Sebrae Pará para que os estados selecionassem empresas alinhadas aos critérios de sustentabilidade e bioeconomia. Roraima teve 11 marcas aprovadas, e isso mostra a força da nossa economia criativa. A COP é uma vitrine global, e o Sebrae tem o papel de preparar, apoiar e conectar nossos empreendedores a esse cenário”, explica.

Gabrielle destaca ainda que o Sebrae oferece apoio logístico, capacitação e acompanhamento técnico, garantindo que os produtos cheguem ao evento com certificação e identidade. “É um reconhecimento do potencial do Norte e da Amazônia como produtores de inovação sustentável. Essas marcas não apenas representam o estado, mas mostram que a cultura e o empreendedorismo local são caminhos reais para o desenvolvimento sustentável”, reforça.

Da aldeia para o mundo

O nome Minha Aldeia sintetiza o propósito da marca: valorizar as raízes indígenas e transformá-las em produtos que conectam tradição e contemporaneidade. A artista explica que cada peça nasce de um olhar afetivo para as referências do cotidiano amazônico.

“Eu procuro trabalhar com elementos que nos representem de forma única. A panela de barro, as frutas, as paisagens, as texturas… tudo que faz parte do nosso território pode virar inspiração. É uma forma de mostrar que o belo também está na simplicidade da nossa cultura”, afirma.

Atualmente, Edith comanda uma equipe de costureiras e artesãs que produzem suas peças localmente, gerando renda e oportunidades para outras mulheres. “Já são duas costureiras fixas e uma colaboradora aqui na loja. Foi um desafio encontrar pessoas que entendessem meu estilo, mas hoje trabalhamos em sintonia. Não é só costurar, é transmitir uma ideia, um sentimento”, explica.

Além de representar o Brasil na COP30, Edith também foi convidada a apresentar suas criações no São Paulo Fashion Week, um dos maiores eventos de moda da América Latina. “Eu nunca imaginei estar nesses lugares. E é muito emocionante saber que o que começou aqui, no centro de artesanato com a minha mãe, hoje chega a espaços tão grandes. Tudo isso eu devo ao Sebrae, que acreditou em mim e me ajudou a acreditar também.”

Sustentabilidade e ODS: a arte que transforma

A trajetória de Edith e de outras empreendedoras apoiadas pelo Sebrae Roraima dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU. A COP30 é o ambiente ideal para evidenciar como pequenos negócios podem contribuir com metas globais, unindo impacto social, cultural e ambiental.

Projetos como o da Minha Aldeia refletem o ODS 5 (Igualdade de Gênero), ao fortalecer o protagonismo feminino na economia criativa; o ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico), ao gerar emprego e renda a partir de práticas sustentáveis; e o ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis), ao priorizar o uso consciente de materiais e o reaproveitamento de resíduos têxteis.

Além disso, o Sebrae atua de forma alinhada ao ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura), incentivando a inovação e a valorização das cadeias produtivas locais, especialmente na Amazônia.

De acordo com Gabrielle Ribeiro, o Sebrae Roraima tem trabalhado para inserir o estado no mapa do desenvolvimento sustentável, mostrando que é possível crescer economicamente respeitando o meio ambiente e as tradições culturais. “Essas empreendedoras representam exatamente o que queremos mostrar ao mundo: que a Amazônia é criativa, produtiva e sustentável. Elas provam que o empreendedorismo pode caminhar lado a lado com a preservação”, destaca.

Um legado que inspira

Para Edith, a experiência de participar da COP30 é mais do que uma vitrine para seus produtos — é um símbolo de representatividade e resistência. “Eu estou vivendo um sonho. Ver as minhas peças expostas para o mundo é algo que ainda estou assimilando. Eu acho que toda mulher, todo artista que vem de onde eu vim, vai se ver um pouco em mim nesse momento”, diz.

Com 45 estampas desenvolvidas até agora, a Minha Aldeia segue crescendo e conquistando espaço no mercado nacional, sem perder sua essência.

Entre os novos passos da carreira, Edith prepara um projeto que une tradição, afeto e inovação: a criação de vestidos de noiva voltados para mulheres indígenas. A estilista revela que as primeiras peças já estão em confecção e que o conceito vai além da estética, trata-se de um resgate cultural que respeita os símbolos e valores de cada etnia.

“Eu nunca imaginei trabalhar com noivas, mas percebi que essa é mais uma forma de dar visibilidade à nossa arte. Esses vestidos vão acompanhar cocares, colares e elementos que traduzem nossa identidade de maneira respeitosa a cada etnia”, conta.

Feitos com tecidos naturais e fibras puras, as roupas são para valorizar a beleza da mulher indígena sem abrir mão da ancestralidade. “A ideia é que cada peça conte uma história. São roupas para celebrar a identidade”, diz

O novo projeto amplia o propósito da Minha Aldeia, transformando a moda em uma forma de resistência e afirmação cultural.

“O que me move é a vontade de mostrar que a nossa arte tem valor. Que o que é feito aqui, com as nossas mãos e o nosso olhar, tem poder de encantar qualquer pessoa em qualquer parte do mundo.”

A presença de Edith na COP30 é mais uma página da história que o Sebrae Roraima tem ajudado a escrever: a história de uma Amazônia empreendedora, criativa e sustentável, que acredita que o futuro se constrói com identidade e propósito.

Para continuar acompanhando as ações, eventos e oportunidades promovidas pelo Sebrae Roraima, siga o perfil oficial no Instagram @sebrae.roraima. Lá, você encontra informações atualizadas sobre feiras, capacitações, programas de fomento e iniciativas que fortalecem o empreendedorismo e o desenvolvimento sustentável em todo o estado.