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Conheça Norelis, a venezuelana que escolheu o Brasil para empreender

Artesã participou do Encontro Internacional sobre Mobilidade Populacional na América do Sul e da Feira Cultural e de Empreendedorismo do Sebrae Roraima
Por Sebrae/RR
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Artesã participou do Encontro Internacional sobre Mobilidade Populacional na América do Sul e da Feira Cultural e de Empreendedorismo do Sebrae Roraima.

A venezuelana Norelis Falcon, de 47 anos, acreditou no Brasil como lugar acolhedor para seu recomeço pessoal e profissional. Em 2019, após perder a filha de três anos e ver sua agência de turismo fechar as portas em meio à grave crise econômica em seu País, ela decidiu deixar Santa Elena de Uairén com a sua segunda filha Maria Paula, na época com apenas dez meses de vida, para viver em Boa Vista. Arriscou, inclusive, o próprio casamento para mergulhar na esperança de dias melhores. Na bagagem, levava apenas 20 dólares, 30 reais, três mudas de roupa e seus artigos de artesanato indígena.

E foi como artesã, com a ajuda da família, de velhos amigos brasileiros e até do Poder Público, que ela começou a dar a volta por cima. Ao chegar à capital de Roraima, conseguiu uma casa cedida por nove meses. “Foram anjos que Deus colocou em meu caminho”, disse. E não se conformou:

Eu sabia de onde vinha, quem eu era e o que precisava fazer.

O primeiro passo foi aprender o português em curso oferecido pela Igreja Católica para migrantes. E assim, vender as peças que ela mesma fazia à população local e aos turistas na cidade, até conseguir uma loja fixa no Centro de Artesanato, no centro histórico boa-vistense. “Trabalhava de segunda a segunda pra ocupar minha mente, para não ter o que pensar, passar um domingo sozinha, sem ter como reunir a família para um churrasco, porque os amigos estão ocupados também porque são migrantes”, lembra.

Foi em Boa Vista, também, que viveu o drama da separação após nove anos de casamento. Segundo ela, seu então esposo indígena da etnia taurepang não aceitou deixar sua comunidade na Venezuela para viver no Brasil. “Decidi cortar a relação e viver um processo ainda mais forte”, rememora.

É neste contexto que o Sebrae chega à vida de Norelis, a engenheira industrial por formação que escolheu o artesanato para superar os próprios dramas pessoais – que incluem a perda da filha Awekü, morta afogada em uma piscina. O nome da menina, que compõe a denominação de seu negócio Procriart Awekü, significa “doce”.

Foi no Sebrae que, em 2021, Norelis buscou conhecimento sobre como formalizar sua loja, obtendo seu CNPJ. Ela se inscreveu no projeto Sebrae Delas e recebeu consultorias diversas, incluindo financeira, de marketing digital e de precificação. “Eu não perdia uma palestra de mulher de sucesso”, diz. “O Sebrae é um grande apoio profissional, psicológico e empresarial”.

Hoje, ela consegue viver exclusivamente do artesanato, o mesmo que possibilitou a vinda, em 2022, de seu pai de 72 anos para Boa Vista, o qual agora empreende como manipulador de alimentos.

Em sua vitrine, Norelis vende artigos que explicam sua identificação histórica pessoal com a cultura indígena: pequenos quadros, pulseiras, colares e souvenirs produzidos por seus amigos artesãos indígenas venezuelanos. “O artesanato está comigo por todas as partes”, declarou ela, cuja clientela é majoritariamente formada por turistas nacionais e internacionais que passam por Boa Vista.

Em 2023, a história da artesã conquistou o Brasil. Concorrendo com mais de quatro mil mulheres do País, Norelis Falcon foi vice-campeã nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria MEI (Microempreendedora individual). Foi a primeira migrante finalista da premiação.

Foi algo muito enriquecedor. Não foi fácil contar minha história. Passei a falar de coisas que me dão dor, mas que ao mesmo tempo, motiva as pessoas a seguirem em frente e ajuda outras mulheres que passaram pela perda de um filho, pela separação, por ansiedade. Passei por tudo isso e a arte, para mim, foi uma terapia e um sustento, declarou a artesã.

Norelis Falcon, vice-campeã nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na categoria MEI (Microempreendedora individual).

Norelis compartilhou um pouco de sua história no Encontro Internacional sobre Mobilidade Populacional na América do Sul, e ainda foi uma das expositoras da Feira Cultural e de Empreendedorismo do Sebrae Roraima, entre os dias 19 de 21 de março, no Centro Amazônico de Fronteira (CAF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR).

A feirinha abriu espaço para marcas locais, como Bebidas Monte Roraima, Coop Roraimel, Café Monte Roraima, Grupo Parima e, principalmente, artesãos indígenas venezuelanos, mostrarem o que têm de melhor ao público. Quase 700 pessoas passaram pelo CAF durante os três dias de evento.

Segundo a analista técnica Jesana Figueira, da Unidade de Atendimento da Região Central e Norte do Sebrae/RR, o evento foi a oportunidade para um público formado majoritariamente por jovens estudantes conhecer os produtos locais. E para a instituição, foi possível vislumbrar um futuro apoio a novos projetos. “O mais importante de tudo foi poder expor os produtos, fazer contatos, apresentar o seu trabalho pras pessoas”, disse.

No caso dos migrantes, Jesana ressalta que o Sebrae pode orientar sobre técnicas de atendimento ao cliente, de vendas, a melhor forma de apresentar o produto e ainda formalizar o próprio negócio gratuitamente. “É uma oportunidade de sair da informalidade e ter seu negócio próprio formalizado. Com isso, podem melhorar as vendas deles, até pra outras empresas, inclusive, e receber todo o portfólio de capacitação, consultoria e todos os outros serviços do Sebrae”, finalizou.