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Quem anda pelas principais ruas de Boa Vista, em Roraima, consegue identificar cafeterias em diversos pontos. Cada uma com seu diferencial, as unidades têm se tornado tendência na região. O crescimento de estabelecimentos deste segmento se deve a diversos fatores, entre eles a paixão nacional pelo café. Segundo a Associação Brasileira de Indústria de Café (ABIC), no país, 95% da população consome café, tanto em casa quanto em cafeterias e lanchonetes.

De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), o Brasil é o segundo maior consumidor a nível mundial da bebida, representando 13% da demanda, com 21 milhões de sacas ao ano, logo atrás dos Estados Unidos, que possui 14% da demanda global.

Além disso, o consumo anual de café premium gira em torno de 70 mil toneladas, o que representa de 5% a 10% do consumo total no setor. Esse consumo cresce 15% ao ano, enquanto o de café tradicional aumenta 3,5% ao ano.

Mas se engana quem pensa que todo o processo é apenas servir uma xícara de café. Com a ideia de ofertar ao cliente uma verdadeira experiência ao consumir a bebida, os empresários apostam em grãos especiais e em formatos diferenciados de ambientes. No mercado brasileiro, o produto tem ganhado cada vez mais diferencial competitivo com o crescimento acelerado do consumo de café premium.

As características que diferenciam o produto premium são: sofisticação na produção, seleção qualificada dos grãos, origem do grão, produção com certificado de qualidade e maior proximidade com cafeicultores.

Este é o caso do Jardim Café, comandado pelo empresário Marcos Borges. Há quase dois anos no mercado, a proposta do estabelecimento é proporcionar um ambiente mais acolhedor, um lugar onde as pessoas possam desacelerar e tomar um café sossegadas.

Existem muitos estabelecimentos, como as lanchonetes, que vendem café, mas não são uma cafeteria. Para nós, o foco do estabelecimento é o café e ele merece todo um cuidado especial no preparo, uma rotina que proporcione a experiência de tomar um bom café. Hoje somos a cafeteria que mais tem rótulos de café expostos, mas estamos sempre inovando com novas marcas, pois queremos proporcionar essa variedade para os nossos clientes.

No estabelecimento dele não há garçons. Os clientes fazem o pedido, pagam em seguida e aguardam até ficar disponível para consumo igual nos fast-foods. Dessa forma, o fluxo acaba sendo mais rotativo. Ele vê esse método como tendência e comparou o surgimento de várias cafeterias com o aumento do consumo de vinhos nos últimos anos.

Há alguns anos o brasileiro não tinha o costume de tomar vinho, o produto de maior saída nesse segmento de bebidas era a cerveja. O vinho começou a ser introduzido aos poucos pelo mercado, daí surgiu a Casa Freitas. Logo em seguida outros estabelecimentos que eram focados somente na cerveja, passaram a oferecer vinho, os mercados seguiram o exemplo. Na minha opinião, o mesmo está acontecendo com as cafeterias agora

Com uma proposta um pouco diferente, o empresário Arthur Buss resolveu investir em uma franquia de cafeterias, a Mais 1 Café, que já conta com mais de uma filial em Boa Vista. Entre os pedidos e a entrega do produto, o cliente espera no máximo 15 minutos.

Por ser uma franquia, temos nossos modelos e padrões. Também temos todo o treinamento da sistemática de como preparar os nossos produtos

Quanto ao crescimento do segmento em Roraima, ele atribui a uma tendência nacional. “As cafeterias têm se espalhado por todo o Brasil. Na franquia da qual faço parte, por exemplo, são mais de 500 unidades espalhadas pelo Brasil. É um negócio que está em franco crescimento e ainda com espaço para quem deseja investir”, pontua o empresário.

Proporcionar uma experiência diferenciada aos clientes também é a proposta do Macchiato Caffé Ateliê, no Centro de Boa Vista. Para saborear um bom café no estabelecimento é preciso agendar uma visita. Para um atendimento mais personalizado, são recebidos apenas três clientes por vez. O agendamento é necessário para que os produtos e materiais envolvidos estejam de acordo com o público demandante.

No comando do empreendimento, a empresária Renata Albuquerque explicou que o conceito do estabelecimento não se limita a um recipiente de café.

Temos como base o respeito e amabilidade às pessoas, predominância da harmonia, pulverização da energia etérea, disposição farta de sorrisos e conversas inteligentes que regerão o ambiente físico do Macchiato

Para o futuro, Renata pretende ampliar o ateliê, transformando-o em uma cafeteria. Ela atribui essa migração do formato ao próprio público, que passou a pleitear um espaço aberto, com portfólio mais amplo, sem perder a preservação da metodologia aplicada no ateliê com a coalizão: produto especial, experiência e conhecimento. No novo ambiente, a degustação particularizada permanecerá como um dos serviços a serem prestados ao público.

Quanto ao surgimento de diversos estabelecimentos no segmento, Renata atribuiu o fenômeno ao interesse latente de uma parcela de consumidores ávidos em degustar um café selecionado, de qualidade e que proporcione uma experiência diferenciada. No entanto, ela destaca dois fatos cruciais para esse anseio dos consumidores por café.

O primeiro é o resgate ao passado. Noto que muitas pessoas remontam lembranças familiares do café puro, com o barulho da moagem e cheiro embriagante da torra, momentos resguardados por várias gerações, das mais diversas idades. Outro ponto relevante para o avanço das cafeterias é o claro e crescente intento que nós, humanos, temos manifestado em integrarmos com pessoas, partilhar momentos, interagir e vivenciar realidades, tudo isso regado a café especial e comida saborosa, combinações perfeitamente simétricas.

Renata acredita que o mercado roraimense ainda tem espaço para mais cafeterias. Ela ressaltou que somente em 2022, houve um consumo recorde de café no mundo, e o Brasil permanece como maior exportador do setor e ocupa o segundo lugar no ranking de países que mais consomem café no mundo.

Obviamente, Roraima como o estado promissor que é, tem proporcionalmente acompanhado essa estatística. O interessante é que, além dos consumidores roraimenses já apreciadores de café especial, temos muitas pessoas vindas de outros estados que também buscam a mesma experiência. São pessoas exigentes, famélicas em desbravar essa seara.

Cliente do Sebrae/RR, Renata relata que a parceria foi fundamental para o empreendimento, um suporte que, segundo ela, trouxe inúmeras vantagens para o negócio como também para ela mesma como empreendedora.

O Sebrae tem uma capacidade inigualável para abrir portas, para viabilizar contatos e parcerias. Participei do Empretec e isso causou uma transformação na minha forma de enxergar os cenários à minha volta, sobretudo as pessoas e os potenciais de produtos, nichos e parcerias. A partir daí, foi natural abraçar o projeto de consultoria que proporcionou solidez ao negócio e segurança para minha forma de gerir e lidar com situações reais do mercado e o acesso à cultura local.

O café no Brasil

No Brasil, 95% da população consome café, tanto em casa quanto em cafeterias e lanchonetes. Os dados são da Associação Brasileira de Indústria de Café (ABIC).

Com base no levantamento realizado pelo Analista da Unidade de Gestão da Inovação, Mercado e Serviços Financeiros (UGIMS), Willian Tihago Quirino, os dados mostram que, dos consumidores de café premium, 20% pertencem à classe A; 50% à classe B e 30% à classe C. Dessa forma, a maior parte desse público está situado na região sudeste do país (45%), seguida pelo nordeste (22%) e sul (17%). A maior parte dos consumidores está na faixa etária acima de 40 anos (40%), e os demais possuem entre 18 e 30 anos (35%) e entre 31 e 40 anos (25%).

Além de consumidor, o país é um belo produtor. Em 2020, o Brasil produziu 63.077 mil sacas, o equivalente a 3,7 toneladas de café, sendo as espécies de café produzidas no Brasil: 22,8% Conilon e 77,2% Arábica.

“Cabe salientar que a agricultura familiar essencial para a viabilidade da produção e beneficiamento do grão, pois a sua participação é predominante na produção cafeeira do país, tendo em vista que 78% das 330 mil propriedades rurais dedicadas à cultura cafeeira são da agricultura familiar”, acrescentou Willian Tihago Quirino

Em relação ao perfil dos estabelecimentos e modelos de negócios, no Brasil, 66% das cafeterias são estabelecimentos independentes, e 34% dos empreendimentos no mercado são franquias que comercializam a bebida.

Diferencial do produto

Ao analisar os dados, Quirino destacou que o produto tem ganhado cada vez mais diferencial competitivo, tendo em vista que o consumo de café premium tem crescido de forma acelerada. Todavia, a maior parte do consumo doméstico ainda é de café tradicional.

Em relação ao café premium, as características que o diferenciam são a sofisticação na produção, seleção qualificada dos grãos, origem do grão, produção com certificado de qualidade e maior proximidade com cafeicultores.

Além disso, o café premium apresenta diferenciais em termos de fragrância, sabor, acidez, corpo e no conceito final do produto.

Ele ressaltou que as cafeterias podem ser divididas e compreendidas como especializadas, não especializadas, premium, franquias de cafeterias, cafeteria estilo série de TV e cafeterias veganas e sustentáveis.

Outros dados apontam que as tendências em que as cafeterias apostam são o café gelado; café gourmet (grãos mais selecionados e cafés especiais e exóticos); café sustentável (estão mais atentos às origens e aos procedimentos que envolvem a produção do café); e café com ingredientes únicos.

Como abrir uma cafeteria

Para quem deseja investir no segmento, para ter sucesso no ramo de cafeteria é preciso fazer um bom planejamento e investir em profissionais qualificados. O Sebrae auxilia o empreendedor com um plano de negócios que vai do planejamento até a execução. Basta acessar o site do Sebrae e selecionar a aba ideias de negócios e procurar por “Como montar um café”, onde é explicado o passo-a-passo.

Além disso, cursos e capacitações sobre como gerenciar um negócio são fundamentais para a saúde financeira de um empreendimento. Todos esses serviços estão disponíveis de forma online. No portal também é possível entrar em contato com o Sebrae e o empreendedor ainda tem a opção de procurar uma das unidades do Sebrae em Boa Vista.

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