
Roraima com a Panela de Barro, Tocantins com o Capim Dourado e o Amazonas com o Guaraná de Maués integram o Espaço Sebrae Origens durante a programação do Amazontech 2025, além de mais três estados da Amazônia Legal. As seis federações têm em comum produtos com Identificação Geográfica (IGs).
Por sua vez, a IG é um registro concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) a um território que ficou conhecido pela produção de um produto ou um serviço específico. Em Roraima, as panelas produzidas com barro por indígenas da Raposa Serra do Sol I compõe os 141 produtos com identificação geográfica no país.
Benjamin da Silva Salazar é vice-presidente da Associação Maikan Yerin, responsável por dar suporte aos produtores de panela de barro. Para ele, estar no Amazontech é uma grande oportunidade de dar visibilidade ao trabalho realizado por gerações, além de ser um momento de reconhecimento e valorização da arte paneleiras.
“O processo da panela de barro é bastante específico e cauteloso, trazido pelos nossos ancestrais e mantido pelas nossas anciãs. Existem vários tipos de barro que utilizamos, cada um com sua importância para chegar ao resultado final. Participar do Amazontech é muito significativo, porque é a primeira vez que mostramos nosso trabalho em um evento dessa dimensão aqui em Roraima”, destacou.
Ele explicou que a oportunidade vai além das vendas e se torna um espaço de aprendizado e de fortalecimento da identidade cultural do povo indígena, principalmente pelo contato com pessoas de outras culturas, costumes e histórias.
Estamos felizes, porque além de comercializar nossas peças, estamos trocando saberes com outros expositores e mostrando que a panela de barro é fruto de conhecimentos milenares. O evento permite que as pessoas conheçam de perto nossas peças e tenham uma nova visão sobre o nosso trabalho, que carrega tradição e resistência cultural.Afirmou.
A analista técnico da Unidade de Inovação do Sebrae Roraima, Fabiana Duarte, explicou que o Sebrae Origens vem sendo incorporado aos grandes eventos nacionais e regionais como forma de dar visibilidade às IGs e valorizar os produtores locais.
“Dentro do Sebrae existe um projeto chamado Sebrae Origens, que apoia esse reconhecimento das indicações geográficas junto ao INPI. A estratégia é que, em cada grande evento, esse espaço esteja presente, porque a indicação geográfica vem ganhando mercado e visibilidade. Muitas vezes a gente consome algo sem saber que é um produto reconhecido pelo INPI, o que dá a ele um diferencial e valor agregado”, destacou.
Segundo ela, o trabalho realizado garante não apenas certificação, mas também fortalecimento cultural e econômico das comunidades. Com o pontapé do primeiro IG de Roraima, a previsão é que mais produtos atrelados a regiões específicas do estado também sejam reconhecidos.
“Hoje não é só uma panela de barro. É uma panela de barro reconhecida pelo Instituto Nacional, o que dá visibilidade e valorização. Isso estimula o associativismo, pois os produtores se organizam em grupo e conquistam novos mercados. Em Roraima, além da panela de barro da Raposa, já temos diagnósticos em andamento com produtos como a paçoca, o mel do lavrado, a banana de Caroebe, a soja e o açaí”, completou.
Ao todo, 14 estandes compõe o espaço, entre eles a Panela de Barro da Raposa (RR), Farinha de Cruzeiro do Sul (AC), Farinha de Bragança (PA), Guaraná de Maués (AM), Cacau de Tomé-Açu (PA), Tambaqui do Vale do Jamari (RO), Café Robusta Amazônico das Matas de Rondônia (RO), Cacau de Rondônia (RO), Farinha de Uairini (AM), Abacaxi de Porto Grande (AP), Açaí de Feijó (AC), Mel do Lavrado (RR) e Paçoca de Roraima (RR).
Capim Dourado do Jalapão
Entre os destaques da programação está também o Capim Dourado do Tocantins, reconhecido pelo brilho único e natural que o tornou símbolo do Jalapão. Nascida e criada no estado, a artesã Maria do Carmo Pereira Vieira contou que o material é utilizado para a confecção de acessórios como brincos, colares, anéis, bolsas, chapéus e chaveiros, sendo uma das riquezas culturais mais valorizadas da região.
“O capim dourado é o único daquela região do Jalapão que tem esse brilho e cor natural, sem química, sem processo industrial. Já existe o selo de identificação geográfica e estamos trabalhando para que ele volte a ser efetivamente implantado, de modo que nosso artesanato seja reconhecido no mundo inteiro. A nossa missão é preservar a origem, porque é só naquela região que existe o capim dourado”, explicou.
A artesã reforçou que a proteção legal dará mais segurança às profissionais que atuam na produção. Atualmente, ela é presidente Associação dos Artesãos do Capim Dourado Pontealtense.
“Com a criação da IG, as artesãs estarão garantidas por lei, e o trabalho de todas será valorizado. Hoje, muitas peças são vendidas como se fossem do Jalapão, mas o capim é retirado de forma clandestina e levado para outros estados. Isso prejudica as comunidades locais, por isso lutamos pelo reconhecimento oficial”, ressaltou.
Ela destacou, ainda, o trabalho coletivo desenvolvido na região, que ganhou força com a criação da Associação em 2003 para organizar a produção e atender as demandas de turistas que procuravam por peças nas casas das artesãs.
“Desde 2020, quando assumi a presidência, investimos na capacitação para garantir acabamento de qualidade, beleza e design. Antes, muitas peças tinham acabamento rústico. Hoje, queremos atender a qualquer público, mantendo a durabilidade e a sofisticação do nosso artesanato”, disse.
Pela primeira vez participando do Amazontech, Maria do Carmo avaliou que a experiência superou as expectativas e trouxe novas oportunidades de aprendizado, com a certeza de que a volta ao estado vai combinar com troca de conhecimento.
“Fiquei surpresa com a participação do público em um espaço universitário, que não é um shopping ou centro comercial. Foi uma vivência excelente e levaremos muitas ideias novas. O capim dourado é natural, faz parte do meio ambiente e da nossa biodiversidade. Essa troca de experiências fortalece nossa sustentabilidade e a preservação da natureza”, concluiu.
Guaraná de Maués
Já no interior do Amazonas, o guaraná em pó de Maués é símbolo de tradição e geração de renda para centenas de famílias. A agricultora Estefelan Souza, terceira geração da família que cultiva o produto, participou do Amazontech levando a marca da cultura local e da produção orgânica que conquistou o selo de Identificação Geográfica.
“É muito importante para a gente estar aqui nesse evento que voltou com força total, muito bem organizado e preparado para receber produtores da Amazônia Legal. Temos o privilégio de fazer parte dessa IG, com um produto orgânico e certificado, que agora está sendo lançado diretamente ao cliente, para que ele possa preparar a sua bebida em casa”, disse.
Ela destacou os benefícios do guaraná, que se tornou referência mundial em energia natural, pois auxilia na concentração, dá disposição para os estudos, além de contribuir no emagrecimento e na prática de atividades físicas. E, para melhor efeito, a agricultora recomenda consumir o produto consumir puro, sem adoçante ou açúcar, no máximo com mel, para manter suas propriedades naturais.
“Meu avô iniciou esse trabalho, meu pai deu sequência e hoje assumo essa missão com prazer. Produzimos quase uma tonelada de guaraná orgânico por safra, e é emocionante poder seguir essa história. A agricultura é desafiadora, mas com a tecnologia conseguimos associar inovação à tradição, sem perder nossa essência”, acrescentou.
A produtora também lembrou que a linha de itens vem se diversificando ao longo dos anos. Antes, o que era vendido em atacado, evoluiu para produtos finais com embalagens e selos.
“Agora temos guaraná em pó, cápsulas e bastão. O bastão é para quem realmente aprecia o produto, porque precisa ser ralado na língua de pirarucu, que também é regulamentada e reconhecida pelo Ibama. Temos orgulho de oferecer ao mercado um produto registrado, sustentável e que carrega a identidade de Maués”, concluiu
Amazontech 2025
O Amazontech 2025 é uma realização do Sebrae Nacional, Sebraes da Amazônia Legal, Sebrae Roraima, Fundação de Amparo à Pesquisa de Roraima (Faperr), Embrapa e Universidade Federal de Roraima (UFRR). O evento conta com o patrocínio do Governo de Roraima, Eneva, Caixa Econômica, Finep Ministério da Ciência, Tecnologia Inovação, Sistema CNA/Faerr/Senar, Prefeitura de Boa Vista, além do apoio da GAO Tech, Trashin, Treeback, Embrapii, Caer e Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
