A bioeconomia e a inovação sustentável foram temas de discussão no painel Amazônia 5.0: pesquisa, inovação e a nova fronteira da indústria sustentável, nesta sexta-feira (6), no Amazontech, que segue até o sábado (7), no Centro Amazônico de Fronteiras (CAF), da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
O encontro foi dividido em três blocos de perguntas e respostas, que abordaram conceitos como a educação, pesquisa, investimento público e privado, aplicação de tecnologias, a exemplo do uso da inteligência artificial, e transformação digital para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Os convidados foram o deputado Marcos Jorge (Republicanos), Felipe Castro, empresário do setor agropecuário e Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que debateram questões como formulação de políticas públicas e estratégias para transformar ideias sustentáveis em realidade.
Entre suas várias considerações, o deputado Marcos Jorge ressaltou que a educação é fundamental e que a juventude deve ser estimulada a pensar em soluções de inovações que possam ser aplicadas no cotidiano da população. Ele exemplificou uma turma de alunos de robótica do SESI, no qual desenvolve métodos práticos para a comunidade.
O grupo projetou um kit cata água, que consiste em um gerador de energia elétrica para pequenas residências ribeirinhas, localizadas no Baixo Rio Branco, que funciona a base do parafuso de Arquimedes. A ferramenta transfere água de um local mais baixo até pontos mais elevados, transformando-se em energia hidráulica.
“Eles levaram essa ideia para a mostra nacional de robótica de Salvador e ganharam o primeiro lugar, ou seja, alunos roraimenses, instigados a buscarem soluções para os desafios dos nossos povos tradicionais, ganharam destaque lá fora. A partir do momento em que, através de políticas públicas, são fornecidas condições básicas, ligando elos da cadeia entre a produção local e a necessidade da indústria, com a biodiversidade que nós temos, poderemos levar economia, melhor qualidade de vida e geração de benefícios à sociedade”, destacou o parlamentar.
O empresário Felipe Castro avaliou a necessidade de mais investimentos na pesquisa. Conforme ele, o Brasil ainda é um país que pouco investe e gasta recursos com pesquisa para inovação em agronegócio, face ao potencial que a nação possui.
“Um bom exemplo é o estado do Mato Grosso que, se fosse um país, seria o terceiro maior produtor de soja do mundo. Até 40 anos atrás, ninguém acreditaria que esse estado produziria algo e, a pesquisa da Emprapa de variedades, adaptada àquele clima, região e perfil de solo, fez com que ele se tornasse esse estado tão importante no âmbito do agronegócio em nível nacional e mundial. Arrisco a dizer que, se houver uma quebra de safra lá, isso impactará não apenas o preço da soja como, também, o do milho”, afirmou.
O diretor da Anfavea salientou que a pesquisa e o desenvolvimento são a base do novo modelo econômico do 5.0. De acordo com Igor, em 2023, o P.I.B da Dinamarca havia crescido 1,9%. Desses, 1% adveio de apenas uma empresa de fabricação de medicamentos, responsável pelo Ozempic, fármaco usado no controle de açúcar no sangue que se popularizou no Brasil e no mundo.
“O princípio ativo desse remédio é a Semaglutida. Ela foi descoberta através de mais de 20 anos de pesquisa e, conforme um artigo científico que eu li, a substância deriva de um veneno encontrado no lagarto. Então, o que eu quero dizer: a pesquisa é uma atividade de risco, sim, algumas viram mercado e outras não. Por isso, que deve ser uma ação incentivada. Nesse caso da Dinamarca, ela foi absorvida e uma única empresa foi responsável por colaborar com um aumento significativo da economia de lá”, enfatizou.
Ainda foram debatidos ciência, mercado, indústria sustentável. O presidente da cooperativa de crédito de carbono da Amazônia, Venceslau Braz, parabenizou o evento e o nível dos painéis e palestrantes.
“Eu vim procurar temáticas a respeito do mercado de carbono em si e apreciei o debate. Tudo o que foi falado sobre a Amazônia 5.0 é de fundamental importância, porque a Amazônia é uma região multifacetada e cada uma dessas facetas representa um problema, como falta de estrutura, gargalos a serem resolvidos. Além do mais, os governos estaduais precisam se integrar mais aos problemas do bioma e a Amazontech trouxe essa oportunidade. As pessoas que não vieram perderam”, disse.
A sustentabilidade e inovação pensados no contexto territorial da Amazônia motivaram a antropóloga e bancária Natália Freire a participar do evento. Atualmente, ela atua no departamento da área social do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, que trabalha com dimensões de desenvolvimento territorial sustentável, geração econômica e aproveitamento do ecossistema.
“O painel foi muito interessante. Teve a mescla das perspectivas do Poder Legislativo, do setor privado, no caso o empresário e do cientista na parte da automação, que tem uma visão mais tecnológica e ao mesmo tempo mais ativa, pelo fato de ele participar de fóruns internacionais. O debate todo conseguiu ponderar as realidades, as atuações, bem como abriu a interação com o público, que pôde confrontar pensamento, ideias e percepções. Aqui, foram mostradas possíveis soluções adequadas dentro da realidade do dia a dia”, apontou.
Sobre o evento
O Amazontech 2025 é uma realização do Sebrae Nacional, Sebraes da Amazônia Legal, Sebrae Roraima, Fundação de Amparo à Pesquisa de Roraima (Faperr), Embrapa e Universidade Federal de Roraima (UFRR). O evento conta com o patrocínio do Governo de Roraima, Eneva, Caixa Econômica, Finep – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, ZEG, Neria, Sistema CNA/ Faerr/Senar, Prefeitura de Boa Vista, além do apoio da GAO Tech, Trashin, Treeback, Embrapii, Caer e Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
